PF descobre fraude de R$ 1,5 bilhão nas importações da Cisco Systems
17 de outubro de 2007 07:00Operação com Receita e Ministério Público desarticula esquema com mais de 30 empresas e prende 40 pessoas
Operação com Receita e Ministério Público desarticula esquema com mais de 30 empresas e prende 40 pessoas
A Polícia Federal, em parceira com a Receita Federal e o Ministério Público (MP), desarticulou ontem um esquema de fraude tributária que envolve uma grande empresa norte-americana de tecnologia e mais de 30 companhias brasileiras e estrangeiras. Segundo estimativa da Receita, o prejuízo causado em perda de arrecadação é estimado em R$ 1,5 bilhão, incluindo multa e juros. O cálculo é feito em cima dos equipamentos de tecnologia importados de maneira irregular nos últimos cinco anos.
São três as principais fraudes investigadas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal envolvendo a Cisco Systems. Duas envolvem sonegação de impostos federais e uma tem como alvo a lei de incentivo à instalação de empresas de informática na Bahia. Os investigadores do caso comparam esse esquema aos que foram descobertos em 2005 envolvendo a loja Daslu, em São Paulo, e em 2002 o fabricante de eletroeletrônicos CCE, em Manaus.
A Cisco do Brasil está no centro das investigações sobre o esquema de importações ilegais desbaratado pela Operação Persona, mas não é a única grande empresa em apuros por fraudes fiscais. A Receita Federal está investigando o envolvimento de mais 13 grandes empresas que também teriam recorrido a fraudes para importar mercadorias a preços mais baixos e derrubar os concorrentes internos. As investigações tiveram início há um ano, a partir da Operação Dilúvio, outra ação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Fisco.
Procurada pela Folha, a Cisco informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que "busca saber exatamente o que aconteceu [ontem] e que está cooperando com as investigações".
Operação Persona, sobre fraudes em importações, foi o primeiro grande caso sob a direção do delegado Luiz Fernando Corrêa
Em sua posse, novo diretor afirmou que, ao cumprir mandados de prisão, a PF buscaria proteger imagem das pessoas envolvidas
Operação prende 40 acusados de importação ilegal, entre eles o presidente da Cisco no país
Segundo a investigação, a empresa de informática, uma das maiores do mundo, foi beneficiada por esquema de sonegação de impostos
O esquema ilegal de importação de equipamentos para a área de tecnologia da informação descoberto pela Operação Persona da Polícia Federal, que resultou em 44 mandados de prisão, foi investigado durante dois anos por auditores fiscais e por policiais federais.
Os equipamentos vendidos pela Cisco Systems no País não passavam pela sua subsidiária brasileira. Oficialmente, a operação local cuidava da rede de distribuição, do suporte técnico e da promoção de vendas. Os equipamentos eram vendidos, segundo a empresa informava antes da operação policial, da matriz americana para distribuidores brasileiros.
As investigações que levaram à descoberta do esquema de fraudes começaram há dois anos e partiram de uma denúncia de um ex-funcionário da Cisco. Paralelamente, a inteligência da Receita já estava investigando fraudes nas empresas instaladas no Pólo de Informática de Ilhéus, na Bahia, onde o esquema se beneficiava irregularmente de incentivos fiscais concedidos pelo governo baiano. No Estado, foram presas duas pessoas.
Centenas de e-mails trocados por diretores da Mude Comércio e Serviços Ltda. foram interceptados pela Polícia Federal, além de conversas telefônicas dos suspeitos de participar do esquema milionário de fraudes e sonegação de impostos que seria mantido pela Cisco Systems. Em uma delas, um dos suspeitos sugere um meio primário de disfarçar a origem do equipamento, trocando o nome dos Estados Unidos pelo Brasil: "Vamos pintar as caixas".
O governo anunciou ontem a desmontagem de um bilionário esquema de sonegação em importações que envolve várias empresas. Entre as companhias investigadas pela Receita Federal está a Cisco do Brasil, controlada pela gigante americana Cisco Systems, que atua no mercado de redes de telecomunicação corporativa. As autoridades estimaram que, nos últimos cinco anos, houve sonegação de aproximadamente R$ 1,5 bilhão na entrada fraudulenta de produtos estrangeiros calculados em US$ 500 milhões.